O querido estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Pacaembu, ícone da cidade, comemorou 80 anos, no último dia 27 de abril. Durante esses 80 anos recebeu milhões de torcedores em jogos dos clubes paulistas, de outros estados e também da Seleção Brasileira.
Ironicamente, quis o destino que ao completar seu octogésimo aniversário ele não esteja recebendo nenhum jogo de futebol e sim doentes, vítimas do novo coronavírus (Covid-19), no hospital de campanha montado no gramado.
Com 200 leitos para pacientes que não estão em estado grave, infelizmente, o local deve receber lotação máxima até o final da semana.
Errou quem pensou que ele não servia para mais nada e que agora, privatizado, receberia apenas eventos e jogos de times amadores.
Quem poderia imaginar que um dia ele serviria para esse propósito? Pois é, esse é “o seu, o meu, o nosso Pacaembu”, como diz o bordão consagrado pelo locutor do estádio, Edson Sorriso, que os torcedores se acostumaram a ouvir durante os jogos.
Minha lembrança mais antiga do velho e querido Pacaembu
remonta da segunda metade da década de 1960, quando eu, ainda criança, fui levado por meu pai para assistir a um jogo de futebol pela primeira vez no estádio. Foi um dia inesquecível!
Lembro que entramos por um portão oposto à entrada principal. Ali, entre o final da arquibancada leste e a antiga e charmosa concha acústica, havia uma estátua de um homem nu.
Claro que aquilo me chamou a atenção e fui logo perguntando ao meu pai quem era aquele “homem pelado”. Ele me explicou que era uma réplica em tamanho real da estátua de David, uma das mais famosas obras de Michelangelo – esculpida no século 16.
A estátua de cinco metros de altura foi retirada do local em 1969, quando obras para aumentar a capacidade do Pacaembu tiveram início. Infelizmente, a bela concha acústica foi demolida para dar lugar a uma horrorosa arquibancada que logo foi apelidada de tobogã.
David foi colocado na praça Charles Muller, mas não ficou muito tempo por lá. Dizem que moradores do bairro pediram à prefeitura a retirada daquele “homem pelado” para não chocar as crianças e as moças que frequentavam o local.
Hoje a réplica de David já faz parte da história do bairro do Tatuapé, para onde foi transferida em 1974 e repousa tranquila em frente aos arcos da entrada do Centro Educativo, Recreativo e Esportivo do Trabalhador (Ceret).
O Pacaembu foi inaugurado em 1940 com uma grandiosa festa,
que reuniu mais de 40 mil pessoas e que contou com a presença do então presidente Getúlio Vargas, além de muitas outras importantes personalidades políticas da época.
O jogo inaugural colocou frente a frente o Palestra Itália (atual Palmeiras) contra o Coritiba. O time paulista venceu a partida por 6 a 2. A rodada dupla teve também o jogo entre o Corinthians e o Atlético-MG, com vitória do Timão por 4 a 2.
Em 1950, recebeu seis jogos da Copa do Mundo, inclusive um da Seleção Brasileira contra a Suíça. E, embora sempre tenha acolhido os times paulistas, o estádio municipal foi aos poucos se transformando na casa do Corinthians, principalmente depois que o São Paulo inaugurou o seu estádio do Morumbi na década de 1960.
Em 2012, dois anos antes de inaugurar a sua arena em Itaquera, o Timão conquistou um dos seus mais importantes títulos no Pacaembu, a Copa Libertadores da América. Taça que o Santos de Neymar também levantou, em 2011, no velho estádio.
O recorde oficial de público
aconteceu no dia 25 de maio de 1942, quando 72.018 pessoas assistiram ao empate de 3 a 3 entre o Corinthians e o São Paulo. O jogo marcou a estreia de Leônidas da Silva, o Diamante Negro, no Tricolor.
Consagrado nos campos da Europa, o craque Ronaldo Fenômeno encerrou a carreira em jogo festivo no Pacaembu.
O recordista de gols no estádio é Cláudio Cristóvam de Pinho (1922-2000), apelidado de “Gerente”, que jogou no Corinthians, seleções Brasileira e Paulista, além de Palmeiras, Santos e São Paulo após deixar o Timão. Segundo o jornalista e historiador Celso Unzelte, entre os anos de 1945 e 1957, ele balançou as redes do Paulo Machado de Carvalho 202 vezes.
Em 1998, o complexo foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). E, no início desse ano, foi concedido à iniciativa privada que irá fazer obras de modernização, porém preservando a sua fachada imponente e histórica. Já o tobogã será demolido e em seu lugar será erguido um edifício comercial.
O Museu do Futebol continua funcionando no local e vale a visita!
Roberto Maia é jornalista, cronista esportivo, editor da revista Qual Viagem e do portal Travelpedia.
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