Não entendo nada sobre astrologia, mas já ouvi falar muito sobre um tal de inferno astral. Segundo especialistas, trata-se do período de um mês que antecede a data de aniversário de cada pessoa. Algo como o final de um ciclo quando a energia vai chegando ao fim e preparatório para a renovação da força.
Pensando assim poderíamos imaginar que a fase ruim do Palmeiras após a parada do futebol brasileiro para a Copa América teria como fundamento a teoria do inferno astral. O time não venceu nenhum jogo do Brasileirão depois do torneio de seleções.
Empatou cinco vezes e teve duas derrotas, uma sequência negativa que tirou o Alviverde da liderança. Mas as coisas só pioraram após a data do aniversário do clube no último dia 26 de agosto, quando comemorou 105 anos.
O clima continuou pesado
E apenas um dia após a celebração o Grêmio jogou água no chope do Verdão ao vencer por 2 a 1, no Pacaembu, o jogo pelas quartas de final da Copa Libertadores. Culpa dos astros?
Em meio à tristeza causada pela eliminação, o poderoso diretor de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos tratou de tranquilizar os torcedores. Reuniu a imprensa e garantiu que Luiz Felipe Scolari, apontado como o principal culpado pelo fracasso, continuaria no comando do time. “O Felipe é o nosso treinador. Tem contrato conosco. Não passou na cabeça dele nem na nossa de fazer alguma troca nesse momento”, disse.
Pronto tudo resolvido. Só que não.
No final de semana passado o Palmeiras foi goleado pelo Flamengo por 3 a 0, no Maracanã, com direito a gritos de olé pela torcida do Mengão. O que os astros teriam contra o Verdão?
Mesmo insatisfeitos, os torcedores sabiam que Felipão daria um jeito no time mais cedo ou mais tarde, afinal tem vasta experiência e estava garantido no cargo pela direção do clube. Mas, apenas três dias depois de Alexandre Mattos dizer que ele não sairia, o treinador foi demitido. Alguns maus resultados pesaram muito mais que o currículo vitorioso do velho treinador no clube. Em três passagens, ele conquistou a Copa do Brasil (1998 e 2012), Copa Mercosul (1998), Libertadores (1999), Torneio Rio-São Paulo (2000) e o Brasileiro (2018).
Pronto, fim dos problemas!
A saída de Felipão atendia a pressão da torcida e também de dentro do clube. A diretoria agiu rápido e anunciou a contratação de Mano Menezes para as próximas duas temporadas. Tudo parecia resolvido e enfim o Verdão voltaria a ter paz e tranquilidade após o fim do inferno astral com efeito retardado.
Mas um áudio vazado com afirmações de Seraphim Del Grande, presidente do Conselho Deliberativo do Palmeiras, para alguns conselheiros tratou de reacender o fogo do inferno verde. Del Grande criticou a contratação de Mano, disse que quem deveria ser demitido era o Alexandre Mattos e que o presidente Maurício Galiotte estaria “enterrando” o que resta do seu mandato.
Não demorou muito para conselheiros oposicionistas e torcedores organizados exigirem a saída de Mattos e hostilizarem a chegada de Mano, a quem acusam de retranqueiro e de ter fortes vínculos com o arquirrival Corinthians. O entorno da arena Allianz Parque foi pichado com frases contra o diretor e o presidente palmeirense.
Agora é esperar para ver os próximos capítulos dessa crise que não tem hora para acabar. Se o presidente vier a público e garantir Alexandre Mattos no cargo podemos pensar que ele logo será demitido se a pressão continuar.
Então, afinal, de quem é a culpa? Dos astros? Dos astros de um time milionário? Ou de um diretor que se sente um astro?
Roberto Maia é jornalista, cronista esportivo, editor da revista Qual Viagem e do portal Travelpedia