O sentimento é geral, o futebol está ficando chato. No final de semana passado isso ficou ainda mais evidente em duas situações distintas. Uma aconteceu em Paris e a outra em São Paulo. Em ambos os casos ficou evidente o empobrecimento do futebol moderno.
Com a instantaneidade proporcionada pela internet, qualquer assunto polêmico percorre o mundo em minutos através das mídias sociais.
E foi o que aconteceu no último sábado (dia 1º), logo após o árbitro do jogo entre o Paris Saint-German e o Montpellier chamar a atenção de Neymar Jr por causa de um lance que seria absolutamente normal nos tempos dos geniais Garrincha, Pelé e tantos outros craques do passado.
Neymar tentou aplicar uma carretilha
ou lambreta como alguns preferem chamar – no zagueiro Souquet, que não reclamou. Ao ser repreendido pela jogada, o camisa 10 do PSG reagiu ostensivamente e acabou levando o cartão amarelo.
O árbitro francês provavelmente interpretou que a jogada do brasileiro tinha a intenção de humilhar o adversário. No fundo ele apenas quis defender um compatriota sem os mesmos recursos técnicos e se esqueceu que a função dele não é inibir o futebol arte.
Ou será que ele apenas não gostou do cabelo cor de rosa de Neymar, que mais parecia algodão doce? Não importa a motivação e sim o fato de que ele errou feio.
Internautas de todo o mundo ainda defendiam Neymar quando, no domingo pela manhã, no clássico Corinthians e Santos, disputado na arena do Timão em Itaquera, um outro lance conspirou novamente contra o futebol.
Logo no início do segundo tempo, o jovem atacante Janderson
marcou o segundo gol corinthiano e correu para celebrar junto com os torcedores. Pela comemoração ele recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso.
Ao deixar o campo, Janderson em sua inocência ainda eximiu de culpa o árbitro Luiz Flávio de Oliveira. “Infelizmente esqueci que já tinha um cartão amarelo. Na empolgação do meu primeiro gol em um clássico fui comemorar com a torcida e só depois fui perceber. É uma regra deles, não tenho o que reclamar. Eu estou errado”, disse.
Não Janderson, você não errou. Quem está errado é quem criou essa regra absurda que atenta contra o momento mais sublime e empolgante do futebol, o gol.
O treinador do Corinthians, Tiago Nunes, saiu em defesa do seu jogador. Ainda bem, só faltava repreende-lo pelo ato.
Ele disse que também teria comemorado tal como Janderson. “Eu teria sido expulso igual ele. É fácil dar amarelo para um menino de 20 anos. Os árbitros sabem para quem dar cartão ou não. Sabem para quem o fantasma aparece”, afirmou.
Apesar da carreira ainda curta no futebol, Tiago Nunes foi corajoso em suas palavras. Poderia ter ficado em cima do muro como tantos outros por medo de represarias.
Com muito mais experiência no mundo do futebol, o treinador do Grêmio, Renato Portaluppi,
também saiu em defesa de Neymar e Janderson.
Em entrevista após o jogo do tricolor gaúcho, Renato foi enfático ao afirmar que “estão tentando acabar com o futebol”. Segundo ele, “daqui a pouco vão proibir o jogador de fazer gol.”
“Lambreta é artifício do jogo. O árbitro tem que saber diferenciar recurso de quando o cara quer tirar uma onda. Não foi o caso do Neymar, ele não faltou com respeito ao adversário.
O jogo estava 1 a 0. Se tivesse 4, 5, 6 a 0 seria diferente. Neste caso, não, é o recurso do jogador”, disse com a autoridade de quem jogou muita bola.
Renato está coberto de razão. Chegará o dia em que um árbitro expulsará um jogador que marcar um lindo gol após driblar zagueiros e o goleiro. Seu estúpido argumento será o de que houve tentativa de humilhar os adversários! E será o fim.
Roberto Maia é jornalista, cronista esportivo, editor da revista Qual Viagem e do Portal Travelpedia.
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