Tirando o Flamengo que está muito acima dos demais clubes que disputam a Série A do Brasileirão, o Santos de Sampaoli é a melhor surpresa da competição. O Alvinegro da Vila entregou muito mais do que se esperava dele.
Ainda mais quando comparamos com os adversários do Estado – Palmeiras, São Paulo e Corinthians – que decepcionaram os seus torcedores. E, apesar de não conquistar títulos em 2019, o bom desempenho do time no Campeonato Brasileiro superou expectativas.
Ninguém poderia supor que o time que terminou a temporada de 2018 na décima colocação e chegou a frequentar a zona de rebaixamento pudesse ir tão bem esse ano. Ainda mais perdendo jogadores importantes como Gabigol, Dodô e Bruno Henrique entre outros.
Contra todos os prognósticos, o presidente José Carlos Peres investiu pesado em jogadores e surpreendeu ao contratar o treinador argentino Jorge Sampaoli. Gastou mais de R$ 75 milhões em 14 contratações, sendo o maior investimento em Cueva, que custou R$ 29 milhões. Apesar disso, o peruano não se firmou com a camisa santista, ficando até fora do banco de reservas em alguns jogos.
Entre as contratações acertadas estão o goleiro Everson, os laterais Felipe Jonatan e Jorge, o zagueiro Felipe Aguilar e os atacantesMarinho e Soteldo, que se encaixaram muito bem no esquema de Sampaoli.
Tudo começou a ir bem dentro de campo. Antes do Flamengo decolar no segundo semestre nas mãos do português Jorge Jesus, o Santos era a surpresa boa do Campeonato Brasileiro. Diferentemente do jogo extremamente defensivo com que os demais times praticavam, o conjunto santista comandado por Sampaoli buscava o ataque o tempo todo e muita rapidez na recomposição.
Tamanho arrojo culminou em algumas derrotas por goleadas ao longo do ano como os 5 a 1 para o Ituano e os 4 a 0 contra o Botafogo de Ribeirão Preto e também pelo Palmeiras. Mas elas serviram para ajustes no esquema tático.
Porém, fora das quatro linhas a relação entre o presidente santista e o treinador se deteriorava. Ambos passaram a travar uma guerra fria com declarações fortes através da imprensa. A demora na contratação de reforços e as condições financeiras do clube deixavam Sampaolibastante irritado. Apesar disso, o time chegou inclusive a liderar o Brasileirão em algumas rodadas.
A comunicação entre ambos ficou impossível. Em uma tentativa de melhorar a relação profissional, em junho, o Santos contratou Paulo Autuori, ex-treinador que passaria a dirigente com a missão de ser o interlocutor entre o técnico e a diretoria. Com muita experiência no futebol, Autuori desempenhou a função de maneira satisfatória até a semana passada. Ele pediu demissão e reclamou publicamente da interferência do presidente, que pediu a escalação de Cueva, que está afastado por problemas técnicos e disciplinares.
Sem o elo de ligação a permanência de Sampaoli em 2020 é incerta, apesar de ainda ter mais uma ano de contrato pela frente. Dentro do clube poucos acreditam que ele continue. Ainda mais agora que o Racing, da Argentina, demonstrou interesse no treinador para substituir Eduardo Coudet, que comandará o Internacional no próximo ano.
Caso a saída de Sampaoli se confirme será ruim para o clube e também para o futebol brasileiro. Sua permanência poderia gerar frutos na temporada que vem. Com algumas contratações pontuais e com os atuais jogadores acostumados aos métodos ofensivos colocados em prática esse ano, quem sabe o Santos não seria capaz de surpreender ainda mais e conquistar títulos.
ROBERTO MAIA, é jornalista, cronista esportivo, editor da Revista Qual Viagem e do portal Travelpedia.