Por Roberto Maia – Meus amigos corinthianos estão divididos quando o assunto é a falta de apetite do ataque do time dirigido por Fábio Carille.
Uma parte considerável entende que o futebol pragmático, defesa eficiente e gols sob medida deram ao Corinthians mais títulos do que tristezas para a Fiel Torcida nos últimos anos.
Uma outra parte torce, mas fica muito irritada ao ver os jogadores apenas se defendendo em campo. E, claro, confiando cegamente no goleiro Cássio que, quando tudo parece perdido faz defesas milagrosas e salva o time.
Em 2019, o Timão não mudou o seu estilo e sagrou-se tricampeão paulista. No Brasileirão se garante por enquanto entre os classificados para a Libertadores 2020.
Difícil explicar tamanha disciplina tática dentro de um conceito que escolheu ser forte na defesa, ter menos posse de bola e jogar por um gol.
Há pouco mais de dez anos, quando estava na Série B, o treinador Mano Menezes começou a estruturar esse conceito defensivo que hoje está no DNA do time.
Depois de Mano, outro gaúcho, Tite, lapidou e levou o Corinthians às suas maiores conquistas na sua história. E sempre jogando da mesma forma. Mudam os jogadores, mas não o jeitão de jogar.
Bons jogadores foram contratados ao longo dos anos. Alguns não se adaptaram ao esquema e logo são sacados do time. Vão para a reserva e depois emprestados para outros times. Lembram do Pato? Outros de quem não se esperava tanto ganharam projeção ao entender as ordens do treinador.
Um desses casos é o paraguaio Romero, que fez história no clube. E teve até treinadores que não entenderam como o time gosta de jogar, tentaram mudar e tiveram vida curta no Timão.
Fazer o time jogar e conseguir bons resultados, sempre pensando primeiro na defesa não é para qualquer um. Tanto que Carille, então auxiliar técnico, ganhou a chance e se deu bem. Ele estava dentro da comissão técnica desde a primeira passagem de Mano Menezes. Aprendeu e exerceu o conceito defensivo do Corinthians jogar. Inclusive era o responsável pelo treinamento dos defensores.
Agora percebo que ele até tenta fazer o time ser mais ofensivo, mas não consegue. Até jogar com dois centroavantes ele tentou. Entendo que o Corinthians não tem jogadores de meio-campo que façam a bola chegar com qualidade para as finalizações de Vagner Love, Mauro Boselli e Gustagol. Todas as fichas do treinador estavam depositadas em Jadson, que não faz uma boa temporada.
Hoje o Corinthians conta com três centroavantes de oficio, além de jogadores rápidos pelas pontas como Pedrinho, Mateus Vital, Clayson, Everaldo e até o garoto Janderson. E os gols não saem. E quando acontecem muitas vezes são de jogadores de outras posições como Ralf, Manoel, Gil e Danilo Avelar.
A torcida corinthiana tem motivos de sobra para continua acreditando em Carille e seus comandados. Porém, a paciência termina quando as conquistas não vêm.
Este ano, a Copa Sul-Americana era uma realidade e o Timão ficou pelo caminho sendo eliminado por um time de menor expressão, o Independiente del Valle do Equador.
Na Copa do Brasil também mostrou os mesmos defeitos e não chegou até a final. Resta o Brasileirão. Apetite para tentar o título parece que não tem. Se ficar entre os quatro primeiros estará no lucro.
Roberto Maia é jornalista, cronista esportivo, editor da revista Qual Viagem e do portal Travelpedia