O noticiário sobre os grandes clubes de São Paulo na última semana ficou bem concentrado no Palmeiras. E não sem motivo. Após a derrota para o Flamengo, o clube demitiu de uma só tacada o treinador Mano Menezes e o diretor de futebol Alexandre Matos. O presidente do Verdão, Maurício Galiote, atendeu os pedidos das torcidas organizadas que vinham pedindo a cabeça dos dois.
Entre os nomes especulados para ocupar o cargo de Matos me chamou a atenção o de Thiago Scuro, CEO do Red Bull Bragantino, responsável pelo projeto de parceria que promete dar muito o que falar em 2020.
No futebol tudo pode mudar de uma hora para outra, mas os comentários é que ele prontamente rejeitou a proposta e continua à frente do futebol do campeão da Série B do Brasileirão 2019 – com cinco rodadas de antecedência.
E não é difícil entender o motivo dele dizer não para uma dos maiores clubes do País. O projeto que ele comanda em Bragança é totalmente profissional. Ele tem contrato até o final de 2023 e conta com o respaldo da empresa multinacional austríaca Red Bull. Enquanto que no Palmeiras – e na quase absoluta maioria dos clubes brasileiros – o que vale são os resultados imediatos e não há projetos de médio e longo prazos.
A confiança de Thiago Scuro em seguir à frente do Red Bull Bragantino certamente está amparada no histórico da empresa no esporte. Desde 2005, a empresa banca duas equipes na Fórmula 1, onde conquistou quatro títulos de construtores e quatro de pilotos. No mesmo ano também começou a investir no futebol com o RB Salzburg, na Áustria. O sucesso foi imediato e o time hoje é uma potência no pais com 14 títulos conquistados, incluindo um hexacampeonato (2014 a 2019). Também disputa a Liga dos Campeões da Europa.
Em 2009, adquiriu o time alemão SSV Markranstädt. Batizado de RB Leipzig, ascendeu da quinta para a primeira divisão do país. Na Bundesliga foi vice-campeão em 2017 e garantiu classificação para a Liga dos Campeões. A terceira colocação neste ano mais uma vez levou o time à elite europeia.
Portanto, se o sucesso nas empreitadas anteriores se repetir no Brasil, certamente Scuro, que tem apenas 38 anos, poderá ficar muito mais valorizado no futuro.
Na próxima temporada o Red Bull Bragantino disputará o Paulistão, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro – após 22 anos de ausência. Para não fazer feio são esperados grandes investimentos na contratação de jogadores e na infraestrutura. Se em 2019 o futebol contou com cerca de R$ 45 milhões, o próximo ano poderá ter a injeção de até R$ 200 milhões.
O Estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista (SP), que tem capacidade para 17 mil torcedores, será reformado para a disputa do Brasileirão 2020. A ideia é ampliar para 20 mil lugares – capacidade mínima estabelecida pela Conmebol para receber partidas internacionais. Afinal, a Libertadores pode não ser um sonho distante. O projeto também inclui a construção de um novo centro de treinamento para a equipe profissional e sub-23.
Confirmado para a próxima temporada, o treinador Antônio Carlos Zago teve o contrato renovado até o final de 2021. Ele aposta na mescla de jogadores experientes como o goleiro Júlio César (ex-Corinthians) e o jovem Claudinho, o meia de 22 anos, que foi o destaque do time e já é pretendido pelos grandes clubes do futebol brasileiro.
A Red Bull não está para brincadeira e se os objetivos forem alcançados, um novo ciclo no futebol nacional poderá ter início: o dos clubes-empresas.
Roberto Maia é jornalista, cronista esportivo, editor de revista Qual Viagem e do portal Travelpedia.